segunda-feira, 27 de junho de 2011

Solidão

A palavra solidão pode soar de maneira assustadora para muitas pessoas. A grande maioria não entende o real significado da palavra "só". Segundo o Dicionário Priberam da Língua Portuguesa, a palavra "só" tem vários significados que remetem a "sozinho", "isolado", "sem companhia". Dentre estes significado, há a definição de "único". Procurando, por conseguinte, a definição da palavra "único" tem os significados de "sem outro de sua espécie ou qualidade", "muito superior aos outros", "excepcional", "sem precedentes", "singular" e "exclusivo".
Portanto, a palavra "solidão" nos remete, segundo o mesmo dicionário, a "estado do que está só", "isolamento". Porém, para nossa reflexão, deteremos nossa atenção ao significados de "só" e "único".

Primeiramente, a solidão é para quem é "único". Todos nós somos "únicos" diante de Deus. Há correntes de diversas vertentes de pensamento (filosófico, teológico, sociológico e vários outros "lógicos") que insistem em classificar o homem como um ser exclusivamente social ou comunitário. Mas não é bem assim quando consideramos o homem em sua natureza.

Cada ser humano é "único", "exclusivo" e "irrepetível". Essa "irrepetibilidade" é que nos insere no mistério da "solidão". Todos nós somos seres inseridos na sociedade, no mundo, e uma gama de diferentes realidades nos rodeia. Mas continuamos sendo únicos. Nada é capaz de roubar essa característica da nossa natureza.

Tal "unicidade" se reflete dentro de nós, e muitas vezes entra em conflito com a outra faceta da nossa personalidade, que é a "sociabilidade". Somos, ao mesmo tempo, "únicos" e "sociáveis". Aí está a chave para a nossa compreensão para o conceito de "só".

Eu, em mim mesmo, posso viver minha fé, meus conceitos e preceitos; posso não abrir mão deles. Mas à minha volta há todo um mundo de ideias e ideais diferentes, círculos de humanidade de natureza diversa da minha personalidade. Mas não posso simplesmente abrir mão da minha própria natureza, em detrimento de uma natureza alheia.

O que deve ocorrer é uma "complementação" de personalidades, para que haja harmonia com minha interação com o mundo que me circunda. Por isso, é importante compreender e saber viver a "solidão".

Ó amada solidão! Tu que me prometes aceitar e viver em mim mesmo! Tu que, por uma gota que seja de amor, torna-te em mim o caminho para o encontro com o autor da minha origem!

Ser solitário não significa isolar-se socialmente por completo. Posso ser "só" sem estar isolado, porque sou "único". Posso ter medo da solidão somente no sentido de "sem companhia", mas devo encarar o "ser único". É fato!

Tenho uma vocação profunda para viver a solidão. Espero que aqueles que amo compreendam o aspecto da "unicidade" que há em mim.

Depois de tantas aspas, resta-me dizer "somente" que preciso viver "só". "Unicamente".

Quando abraçamos a solidão, resta-nos encontrar a companhia de Deus. Ele preenche toda e qualquer lacuna da nossa existência, eliminando espaços desnecessários dentro de nós mesmos. Ele também costuma brincar conosco, mostrando nosso rosto como em um espelho. Só que o espelho, muitas vezes, se quebra, causando feridas por nossas incompreensões de nós mesmos... Mas Deus permanece, sempre.

Para reflexão, a belíssima música da Ir. Kelly Patrícia.



Abraços!

Ótima semana a todos!!!


Didu

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Corpus Christi

"Reunido com os Apóstolos na última ceia, para que a memória da Cruz salvadora permanecesse para sempre, ele se ofereceu a vós como cordeiro sem mancha e foi aceito como sacrifício de perfeito louvor. Pela comunhão neste sublime sacramento, a todos nutris e santificais. Fazeis de todos um só coração, iluminais os povos com a luz da mesma fé e congregais os cristãos na mesma caridade. Aproximamo-nos da mesa de tão grande mistério, para encontrar por vossa graça a garantia da vida eterna.


Prefácio da Oração Eucarística na Solenidade de Corpus Christi





Bom dia, amados!


Hoje celebramos com toda a alegria do nosso coração a Solenidade de Corpus Christi. Celebrar o Corpo de Cristo significa celebrar a nossa própria identidade de cristãos. Não existe cristianismo sem a presença real e salvadora de Cristo, e tal presença se realiza através do Sacramento da Eucaristia.


Optei por transcrever o texto do prefácio da Oração Eucarística por considerá-lo fundamento da fé católica a respeito da Eucaristia. É lindo como nossa Igreja catequiza até mesmo nos menos perceptíveis detalhes...


Jesus, reunido com seus amigos, quis que a graça salvífica de sua paixão e morte se convertesse em vida para a humanidade. Por isso, ofereceu seu próprio ser em sacrifício de louvor, de exaltação ao Pai e ao homem. Pela ação do Espírito Santo pôde, mesmo depois de morto na cruz, deixar a nós seu sangue precioso e a água da purificação de nossas almas. Tal mistério une e torna a Igreja um corpo contíguo, tornando cada cristão uma parte imprescindível no projeto salvífico do nosso Redentor, cujo ápice é o amor. Devemos, portanto, dirigir nossos passos em direção ao altar, onde está o banquete que nossa alma deseja, e no qual se encontra a graça para viver a vida futura que há de vir.


A Eucaristia é muito mais simples do que possamos imaginar. Sua simplicidade encerra-se na natureza do mistério. Mistério é para ser vivido e contemplado, não compreendido. Explicado, muito menos!


A lógica do amor de Deus é distante da lógica humana, perpetuando-se enquanto existir a humanidade. Por conseguinte, a razão humana não dá contas de si mesma, e esbarra sempre no mistério do amor de Deus que, evangelicamente, consiste em uma opção acessível ao homem. Eis a função sacramental da Eucaristia na Igreja: fazer com que o homem faça uma opção perpétua pela vivência do amor.


Comungar é promover a comunhão. E comunhão nada mais é que viver o Amor, maiúsculo em sua essência, abreviado pelo mundo moderno. Comungar é agir como um mendigo sentado à mesa de um rei, que aguarda pelo banquete.


A Eucaristia é o nosso maior tesouro. Quando encontramos Jesus pelo Santíssimo Sacramento do altar, queremos, mesmo que nos custe a vida, mostrá-lo ao mundo!!!


Para nossa reflexão em tão especial celebração, sugiro algumas músicas que me fazem um bem imenso na vivência da Comunhão Eucarística:


"Majestosa Eucaristia", Anjos de Resgate






"Adoramos o Verbo", Toca de Assis






"Pão dos anjos", Anjos de Resgate






Adoremos o Verbo. Ele é a nossa salvação!


"Graças e louvores sejam dados a todo momento,
ao Santíssimo e Diviníssimo Sacramento!!!"


N. Sra. do Santíssimo Sacramento,
fazei-nos verdadeiros adoradores do Santíssimo Sacramento!!!"




Abraços!




Eduardo Parreiras
Didu

sábado, 18 de junho de 2011

Trindade: um EU em três pessoas

Hoje, domingo seguinte ao de Pentecostes, a Igreja celebra a solenidade da Santíssima Trindade. É uma data importante para todos os cristãos católicos, já que sua iniciação cristã está inserida diretamente no mistério do Pai, do Filho e do Espírito Santo.

Por Jesus, conhecemos o Pai. Pelo Espírito Santo, vivenciamos a salvação que nos foi conquistada por Jesus e desejada pelo Pai. O Pai nos prometeu Jesus que, consequentemente, nos prometeu seu Espírito, aquele mesmo que, no início de tudo, "pairava sobre as águas" (Gn 1,2).

Como falar da Trindade Santa e entendê-la pela razão? Aí está a beleza do mistério trinitário: a imossibilidade de sua compreensão. Pensar nas três pessoas divinas e imaginá-las como um único e verdadeiro Deus é impossível. A razão não dá contas disso! E quem disse que precisamos da razão nessa hora? É que nós temos uma carta na manga: a fé... A mesma fé que move montanhas, que salva, que liberta... A mesma fé que, mesmo sendo um monossílabo tônico, age tão intensamente como se fosse um verbo. E por que não um Verbo? Sim, uma ação inefável da divindade inflamada de amor pela criação.

Jesus é a cara do Pai. O Espírito Santo é o laço de amor entre os dois. Nós, pobres mortais, estamos exatamente entre esse Amor Cruzado de Pai e de Filho. É o "lugar" em que o nosso EU se realiza. Essa é, na verdade, a função do Espírito Santo na Trindade: manter-nos unidos sempre ao Pai que nos criou e ao Filho que nos salvou.

A fé, embora seja para todos, não está ao alcance de todos. Porque é uma questão de adesão, porque cremos, e não apenas acreditamos. Crer exige comprometimento; acreditar é apenas uma forma de "dar crédito", mas não agrega. E as Três Pessoas Divinas querem de nós a fé, o crer, o aderir. O projeto de Deus para cada um de nós é real e vivo. É substancial, não subjetivo. É como um verbo transitivo direto: não precisa de meios para chegar aos fins.

Procurar entender a Santíssima Trindade é inútil. Mas contemplá-la e desejar vivê-la é a porta para a salvação.

Música para reflexão: "O mistério da Trindade", de Walmir Alencar,
Inspirada em um belíssimo texto de Santo Agostinho...


Que Deus nos abençoe por meio de seu Filho, que nos concede a força pela ação do Espírito Santo.

Glória ao Pai,
ao Filho,
e ao Espírito Santo!

Como era no princípio, agora e sempre. Amém!!!

Abraços!


Didu

sexta-feira, 17 de junho de 2011

É preciso ser feliz...


Preciso ser feliz. Essa é uma aspiração natural da minha humanidade. E por que essa necessidade? É que o Criador é assim, a suma e plena felicidade. Se eu, criatura ínfima, tenho em mim traços da minha origem, preciso necessariamente ser feliz. Caso contrário, estou fadado à derrota existencial.

O problema é "como" ser feliz. É um problemão. Ser no mundo exige muito, e ser feliz consome tudo.

É preciso passar por cima da sociedade, dos costumes, das crenças. Não se pode viver plenamente com apegos, preocupações e anseios. A vida feliz só é possível a quem possui a fonte da felicidade. Sem ela, nada se pode fazer.

"A dualidade do meu coração faz com que eu me torne um grande problema para mim mesmo." (S. Agostinho). É como se eu "fizesse o que não quero e não fizesse o que quero." (S. Paulo Apóstolo).

Eu sei o que preciso fazer para ser feliz. Mas, quem diz que eu consigo? A humanidade que há em mim é pesada demais, e Deus quer que eu me liberte dela para fazer parte de sua natureza simplesmente e imutavelmente feliz. E quanto mais o tempo passa, mais os traços humanos vão se fortalecendo, e a distância entre mim e o céu vai aumentando.

O céu é muito distante, mas muito próximo. Basta lançar um olhar para o alto. Mas o movimento de levantar a cabeça é que é difícil...

Ser feliz. Eis a questão...

Ouçam a música "Saudade - Tarde te amei" de Celina Borges
Versão de uma belíssima passagem das "Confissões" de Santo Agostinho







Abraços!


Didu

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Onde está o nosso testemunho???



"Anunciar o evangelho não é, para mim, motivo de glória. É antes uma necessidade que se me impõe. Ai de mim, se eu não anunciar o evangelho!"  I Cor 9,16


Olá, galera!

Hoje eu gostaria de partilhar com vocês um experiência pela qual passei ontem.

Saí do trabalho pouco antes das 17 h e consegui pegar o ônibus logo em seguida – o que é uma raridade, pois costumo ficar até 30 min no ponto, aguardando uma das três opções de linhas que passam na porta da minha casa... Entrei e, para minha surpresa, o ônibus não estava lotado (ô glória!) e consegui ir sentado!!!

Pedi licença e me sentei ao lado de uma senhora. Abri minha mochila e tirei o meu breviário da Liturgia das Horas, para rezar as vésperas. Assim que abri o livro, percebi que a senhora olhou para o livro e logo virou o rosto para o lado, com uma das mãos sobre ele. Parecia tentar, inutilmente, se esconder de mim... Foi uma atitude bem parecida com as pessoas que se sentam em locais reservados a pessoas com prioridade e que fingem que não estão vendo quando chega um idoso... é de matar!

Fiquei pensando o que poderia passar pelos pensamentos dela. O que a faria virar o rosto quando viu meu breviário??? Talvez tenha pensado: “Lá vem um desses fanáticos protestantes querendo pregar!” Sinceramente, me senti triste com essa reação.

Pois bem. O que nós, cristãos, estamos fazendo com a Palavra de Deus? Como o mundo de hoje a tem recebido? Por que as pessoas tem tanta aversão às Sagradas Escrituras? O que desperta tanta antipatia às práticas religiosas em meio à sociedade?

Primeiramente, uma coisa é certa: não vivemos nosso carisma de cristãos católicos com radicalidade, não no sentido pejorativo (e incorreto) de “fanatismo”, mas no sentido próprio de “enraizamento”, “fundamentação” ou “embasamento”. Ou não fazemos questão de não esconder a profissão de nossa fé, ou a demonstramos ao mundo de maneira realmente fanática e imprecisa, por vezes, insegura.

Viver o catolicismo é aprender que a vida começa no coração chagado de Cristo. É sentar-se à mesa com Ele e participar de seu Banquete Eucarístico. É debruçar em seu peito e sentir seu coração pulsar o próprio nome. É ter uma Santa Mãe e amá-la tal como seu Filho Unigênito a ama. É também, embora não seja ainda uma realidade vivida pelos católicos, debruçar-se sobre a Sagrada Escritura, a fim de beber da fonte de sabedoria, cuja graça é o próprio Cristo agindo em nós.

Temos que deixar que a Palavra de Deus seja uma música em nossa vida. Este é o grande mistério. Aliás, o sentido cristão do “mistério” é a definição de “vivência”, e não de “descoberta”. O cristão não busca e não precisa desvendar os mistérios de sua fé, mas tem que vivê-los. E é exatamente essa vivência que faz a diferença no nosso relacionamento com o mundo. A sociedade, embora não saiba, anseia por Deus. O mundo está ávido de palavras sãs, que edifiquem.

Sinto-me chamado por Deus para cantar suas maravilhas. Não somente com a minha voz, mas com minha vida... Embora eu não sirva de exemplo, sirvo para ser uma folha de papel nas mãos do Senhor Jesus, para que ele escreva, em mim, sua história de amor pela humanidade...

Ao fechar o breviário, tudo voltou ao normal, e a mão da senhora saiu de seu rosto, que já voltou a olhar para a frente, como no início. Espero que meu momento com Deus no coletivo durante a volta para casa a tenha tocado... se aquela senhora, em algum momento de sua vida, sentir-se atraída pela Palavra, meu canto silencioso da Liturgia das Horas terá produzido uma conversão. E assim o céu se alegrará.

A música católica começa a fazer efeito quando não precisa ser cantada.

Nossa música para reflexão de hoje:







Abraços!!!


Eduardo Parreiras
Didu

domingo, 12 de junho de 2011

Pontuar é preciso!

O ponto final queria que ninguém mais falasse. O travessão, todo saído, ficou triste, pois gosta de ter a palavra. As aspas, sempre imponentes, não ligaram para a discussão, e continuaram lá, abrindo e fechando o assunto.

A interrogação, em pleno uso da razão, filosofou: "Qual é a questão?" Então, a exclamação disse que queria deixar todos muito alegres, e que nada mais importava que a felicidade. As reticências, no entanto, hesitavam... Sobrou pra quem? Para os parênteses, que acabaram se arranjando no meio da conversa.

Os dois pontos se intrometeram e começaram a discutir com o ponto-e-vírgula quem seria mais importante. O asterisco, todo saidinho, tentou chamar a atenção para si, mas não deu certo, porque o hífen estava lá, para unir o que estava desunido e para separar o que não dava pra ficar junto. Ao fim da página, começou uma nova canção...

sábado, 11 de junho de 2011

Pentecostes

Boa tarde, Galera amada de Deus!


Sejam todos bem-vindos ao meu blog. Resolvi criar este espaço para partilhar um pouco sobre a nossa fé católica e também aprender, por meio dos comentários e da interação com os amigos, mais sobre a ação de Deus em nossas vidas.


Hoje, iniciando a solenidade de Pentecostes, gostaria de partilhar mais sobre a ação do Espírito Santo em minha vida. Desde os dezessete anos de idade, tenho a graça de cantar nas missas da Paróquia Santo Agostinho, em Contagem - MG. Portanto, há treze anos tenho experimentado o poder de Deus, que vem agindo em minha história.


A música, para mim, é pura ação de Deus. Em todos os momentos, alegres ou tristes, de vitória ou derrota, fui movido pela ação do Espírito Santo por meio da música católica. Sempre a usei como refúgio ou como meio de júbilo. É o meio pelo qual Deus toca meu coração.


Cantar é próprio de quem ama, dizia Santo Agostinho. E esse amor não é nada mais, nada menos que o Espírito Santo, o Paráclito, o Advogado de nossas almas. Ele, que é a vida e a alma da Igreja, mantém nosso ministério, seja qual for, em sintonia com o coração de Deus. Eu sou um reflexo dessa ação de Deus na Igreja.


Celebrar Pentecostes é experimentar o milagre, é viver a graça de Deus e saber louvá-lo como convém. É invocar o Santo Espírito para que promova uma nova efusão de seu infinito amor no meio de nós. É partilhar o coração de Jesus doado nos sacramentos, é viver a Palavra de Deus e nutrir o amor por ela. A experiência de Pentecostes é para hoje; não para amanhã. Amanhã haverá, sim, uma outra efusão de graças. Mas Deus quer nos transformar a partir de hoje.


Canto sim. Muito. Minha vida é uma música. Às vezes, desafinada. Por vezes, mal composta. Mas é uma música. Não vivo sem musicalidade... é ela que me nutre desse Deus tão maravilhoso e imenso.


Sugiro ouvir essa música hoje:






Aproveitem a música "O Céu se abre" na voz de seu compositor, Gil Monteiro, acompanhado de Davidson Silva e Bruno Vianna.


"Vem, Espírito Santo!
Com teu poder, tocar meu ser, fluir em mim!"


Abraços!!!


Didu