quinta-feira, 5 de abril de 2012

APAIXONADO POR MIM



O que dizer de um sofrimento que gera vida, de onde brota toda a graça e todo bem? Nesses dias que antecedem a experiência anual da Cruz do Senhor, não consigo pensar muito para escrever. As chibatadas, a coroa de espinhos, os cravos e a lança já falam por si mesmos. Os escárnios dos soldados e os insultos do povo que gritava "Crucifica-o" são igualmente dolorosos.

O fato é que hoje as pessoas não se importam mais com a cruz. O sofrimento de Cristo já não é amado, seus gritos já não são ouvidos e sua dor já não faz mais sentido. Hoje se tem dinheiro, comida, casa, trabalho, conhecimento, lazer. A paixão de Cristo já não importa mais. O que eu tenho a ver com a condenação de um homem que morreu escarnecido há mais de dois milênios?


O fato é que, ao passo que cresce o desenvolvimento humano, cresce também a ausência da simplicidade. Sem humildade é difícil ter fé. Só quem é humilde pode usufruir plenamente dos benefícios da graça de Deus, que requer muito da fé para ser obtida. Falta-nos amor, humildade, reconhecimento, gratidão. Falta-nos simplicidade, aquela que nos faz amar mais o descompromisso com o supérfluo e nos unir a Deus sem reservas, de modo a alcançar a liberdade inteira pela união com a divindade.

As pessoas acham que não precisam mais de Deus. Muitas tem certeza mesmo. Conheço pessoas que são capazes de curtir publicações de reality shows e me rechaçar por eu postar coisas de Deus. E algumas são pessoas que se dizem católicas! Não entendo como as pessoas hoje tem a coragem de não permitir que as dores de Jesus alcancem seus corações. Não mesmo.

Às vésperas do Tríduo Pascal, que se inicia amanhã com a solene celebração da Ceia do Senhor e Lava-pés, passando pela Paixão na sexta-feira e culminando na noite santa da Vigília Pascal no sábado santo, carrego dentro de mim uma tristeza muito grande, uma decepção por não conseguir fazer muito pelo Evangelho.


Eu sinto, vivo, curto, canto o amor de Deus, mas não consigo encaixá-lo plenamente por faltar com a proclamação do Evangelho a partir da minha vida. Eu queria carregar a cruz com Cristo, ser Dele inteiramente até me esgotar todo. Mas não. Estou sufocado demais para respirar ares puros de salvação. Estou vendado pelas falsas maravilhas do mundo, que me atraem de forma massacrante, minando minhas forças para resistir. Sou fraco, eu sei. Muito fraco. Isso me faz admirar ainda mais a força e a coragem de Jesus, que encarou a cruz como esposa e a amou plenamente. A morte foi apenas uma consequência da renúncia total à sua personalidade.

Ele não pensou em si mesmo; eu sempre penso em mim mesmo. Ele não fez contas de sua importância, eu quero ser sempre considerado importante. Ele foi ultrajado, e eu quero ser elogiado. Ele foi ferido, e eu quero ser curado. Ele foi escarnecido, eu quero crescer na vida. Ele me amou acima de tudo, e eu não retribuo nem com um sincero agradecimento. Peço o milagre, mas não possuo Aquele que pode realizá-lo.


A verdade, nua e crua, é que eu preciso tomar vergonha na cara. Já passou da hora de iniciar o processo de conversão, tão necessário para quem quer assumir o nome de cristão. Não sou digno dele. Para colocar uma cruz na frente do nome eu preciso caminhar muito ainda.

Ir ao encontro de Cristo Crucificado é ir ao encontro dos pais com um sorriso que os converta; é dar uma ajuda a um irmão (de sangue ou não), quando ele realmente precisa; é dar um alimento a quem tem fome; é ouvir algum comentário que desagrade e responder com um sorriso (vale pela internet também). Subir com Cristo ao Calvário é suportar as diferenças religiosas, obedecer a palavra dos ministros ordenados, mesmo quando eles estão obviamente errados ou em desobediência à Santa Madre Igreja; é promover o bem a quem só deseja o mal; é responder com carinho a uma provocação ou indagação que sugira uma ação perseguidora.

Sim, Cristo morreu por causa do meu pecado, no singular mesmo, para não ter que relatar um por um. Teria que fazer outro blog para expô-los todos. Meu pecado crucificou o Senhor e continua crucificando-o até hoje, pois seu Coração Sagrado continua a bater, mesmo chagado pela lança das minhas negações.

Quero me converter, mas me falta a coragem para isso. Quero ter a realização da salvação, garantida pela cruz de Cristo, mas o mundo me prendeu. Ele, no entanto, com suas mãos poderosamente chagadas e libertadoras, pode me devolver a graça para a qual fui criado, que é justamente a de ter genuinamente o nome mais gracioso da humanidade: cristão.

Que a morte de Cristo Crucificado nos devolva a vontade de sermos inteiramente Dele.

Cante e reze com a canção "Por amor", dos Anjos de Resgate.



Louvado seja o Nosso Senhor Jesus Cristo!

Abraços...


Eduardo Parreiras

2 comentários:

  1. Alexandre Henrique Vieira7 de abril de 2012 às 10:14

    Parabéns pelo blog, irmão! A verdade precisa ser anunciada de forma a esclarecer os corações que estão em dúvida e afastados do Senhor! Maria lhe inspire! Abraços! Alexandre Henrique

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