Gosto das pontes.
Elas ligam margens, estreitam caminhos, mas o que mais gosto é a visão que proporcionam do leito sobre o qual estão construídas.
Águas que vão e que vem, vales verdes ou simples rochedos.
Por baixo das pontes pode haver estradas, que também ligam.
Também sou assim.
Quero que por mim passem aqueles que não existem por si só, que se lançam em direção ao outro.
Gosto de ser ponte, de conter por baixo água pura ou rochas firmes.
Se eu tiver por baixo um rio, seja ele caudaloso ou manso, para irrigar corações inertes ou agitados.
Ser ponte é não ter importância em si, a não ser a transposição necessária entre existências que se separam por algum abismo. A ponte em si não tem tanto valor, quanto a aproximação que proporciona.
Reduzir distâncias: eis minha vontade mais inerente ao querer de Deus.
Chegamos à semana mais especial do calendário cristão, quando vivemos novamente o mistério do amor de Deus, que entregou seu Filho Único para nossa salvação. Tempo de misericórdia, de graça, de perdão, de assumir os ressentimentos e mexer nas mágoas. É um tempo propício à oração, ao jejum e à abstinência, numa tentativa de treinar o corpo aos anseios da alma, que busca a Deus em cada segundo.
Nós somos feitos para o amor e, por isso, para o encontro. O amor é a abstração do encontro. Encontrar-se é tornar o amor prático, que cura, que salva, que realiza. O amor é o dom mais precioso de Deus, porque é o próprio Deus a derramar sua essência no coração de cada homem e de cada mulher. É a salvação que chega a nós, e nos atinge, como uma flecha inflamada da caridade divina.
Os passos da paixão de Jesus nos levam a um profundo encontro com Ele. Quem não hesita caminhar na dor pode encontrar a eterna alegria; quem não tem medo do sofrimento, rejubila-se com as delícias do céu. A rosa tem, em seu caule, muitos espinhos. Eles a protegem e não é possível pensar uma roseira sem espinhos. A grosseria e ameaça de ferimento que eles conferem não tira em nada a beleza e suavidade da rosa. Cada pétala tem em sua essência um pouco dos espinhos.
O sofrimento nos traz beleza de alma e firmeza nos passos. Não é preciso desejar o sofrimento, mas quando ele chega, é preciso amá-lo. Jesus amou o sofrimento, até o fim. Amou-o por ser instrumento da nossa salvação. É o meio pelo qual o Senhor nos salva da nossa condenação, nos livra dos perigos e nos torna livres da raiz do pecado.
No sofrimento de Cristo somos atraídos pelo amor. Por isso sua Mãe foi ao seu encontro. Maria, a Mãe do Amor, correu-lhe ao encontro por amor, somente. Ela nos ensina como devemos correr ao encontro do Senhor, seja no amor ou na dor. Ela o amou por inteiro, desde o dia que recebeu a mensagem do anjo de que seria Mãe do Salvador. Ela, cheia de graça, nunca mais pôde agir sem ser movida pelo amor e nos ensina também a amar o Senhor em todos os momentos da nossa vida. O amor é perene, não pode acabar.
Da cena do encontro da Mãe com o seu Filho ferido deve brotar em nós a força que gera a fé, pela qual nos aderimos ao propósito de Cristo, que é o amor incondicional a Deus e aos irmãos. Deste encontro doloroso deve surgir em nossos corações o desejo do encontro entre as pessoas, as diversas realidades que vivemos, o acolhimento do diferente e a sobriedade da vivência do evangelho. Neste dia, em que celebramos o encontro de Nosso Senhor e de Nossa Senhora, ambos imersos na dor, embora sejam dores diferentes, devemos nos lembrar daqueles pobres e abandonados, que já não tem com quem se encontrar. Muitos são os solitários do nosso tempo, que não conhecem palavras como "partilha", "amizade", "companheirismo" e "afeto". Lembremo-nos dos que já não reconhecem o valor da família, cada vez mais desunida, fragmentada e desencontrada, realidade tão facilmente percebida na nossa sociedade. Os pais já não encontram os corações de seus filhos, e as mães, já não se encontram como mestras do lar. Nossos jovens, nossos queridos jovens, muitos dos quais escolhem outros encontros, muitos deles nocivos como as drogas e a prostituição, precisam do encontro com o Cristo que cura, salva e liberta. Nosso jovens também precisam encontrar-se com Maria, que nos ensina a acolher e gerar Cristo para o mundo!
Neste ano celebraremos no Rio de Janeiro a Jornada Mundial da Juventude, um grande encontro de fé e alegria, em torno do sucessor de Pedro, o Papa Francisco. Que, a partir deste encontro doloroso de Maria com seu Filho, ambos imersos na dor, possamos fazer do nosso coração um lugar de encontro e acolhida para a juventude do nosso país, a fim de atrairmos cada vez mais jovens para o Reino de Deus, proclamado e inaugurado por Cristo.
Não deixemos de nos encontrar com Cristo nesta semana, em que vivemos intensamente o mistério da Páscoa do Senhor. Seguremos a mão de Jesus com toda a força. Ele mesmo nos conduzirá à sua gloriosa ressurreição.
Para refletir, uma canção muito conhecida, que nos ajuda na reflexão que proponho neste post.
COM TUA MÃO
Suely Façanha
Fraternalmente,
Eduardo Parreiras Seminarista da Arquidiocese de Belo Horizonte 1° Período de Teologia - PUC Minas
"Tira as sandálias dos pés, pois o lugar onde estás é uma terra santa." Ex 3,5b
Amados irmãos e irmãs em Cristo: louvado seja o nosso Senhor Jesus Cristo!
Neste terceiro domingo da Quaresma temos uma Liturgia da Palavra bastante rica, porém um pouco confusa, a princípio. Na primeira leitura, do livro do Êxodo (Ex 3,1-8a.13-15), temos a famosíssima passagem de Moisés que, ao conduzir o rebanho de Jetro, seu sogro, em direção ao Monte Horeb, teve uma belíssima revelação de Deus, por meio da visão da sarça ardente. Mesmo incendiada, a sarça não se consome e Moisés se maravilha com a beleza da visão.
História conhecida do Antigo Testamento, com um sentido bastante simples: Deus se revela e se dá a conhecer. Ele é "Aquele que é" (Ex 3.14a). Seu nome, sua personalidade, sua bondade e amor são inefáveis, de impossível descrição. É um Deus próximo, que torna santo todo aquele que o toca, mesmo que com o olhar que lhe é dirigido a certa distância. Todo aquele que se apaixona por "Eu sou" torna-se um ente repleto de vida, banhado pela eternidade.
A Igreja, terra santa e o Novo Horeb, é para nós o monte de Deus na Nova e Eterna Aliança. É na Igreja que a salvação se realiza, onde o homem pode se tornar cada vez mais humano, mais próximo de sua essência primeira, como imagem e semelhança de seu Criador. Cristo, ao reconciliar o mundo com Deus, fez do seu novo povo eleito uma nação santa, portadora do Evangelho do seu amor incondicionalmente salvífico. É na Eucaristia que a sarça do nosso coração não para de queimar, sem se extinguir. É no Coração Sagrado de Jesus que encontramos toda graça e redenção.
Este novo povo eleito, ou seja, toda a humanidade, é potencialmente a Igreja em meio ao mundo. E essa imensurável comunidade humana, repleta do amor de Deus, e também das imperfeições humanas, navega pela história em direção ao céu, que há de vir.
Estamos vivendo um tempo em que o Senhor se revela mais uma vez a nós e, com todo a força de seu amor, nos convida a tirarmos novamente as sandálias dos pés, para tocar, com nossa humanidade, o solo sagrado de sua bondade.
Neste período de Sé Vacante, em que não temos um Papa para chefiar o rebanho de Cristo, precisamos entrar em profunda oração, em comunhão com todo o Corpo Místico de Cristo, de modo especial o Sacro Colégio dos Cardeais, que elegerão, em breve, um novo Sumo Pontífice, que Cristo coroará como ponto de unidade e referência para suas ovelhas. Não me sinto órfão, nem abandonado pelo Papa Emérito, Sua Santidade Bento XVI. Sinto-me, antes, profundamente amado por este homem tão grande, tão humilde e manso. Ele aprendeu de Cristo as virtudes que considero mais sublimes para que o homem se volte com todo o coração para o Senhor: a mansidão e a humildade. Manso porque se deixou tocar pela mão de Deus, e humilde, porque seu coração se tornou húmus, terra fértil, onde a Palavra de Deus germina em graças para toda a Igreja.
A Sé de Pedro está vazia. Ainda não há quem a ocupe, mas em breve teremos um outro Pastor que nos será dado pelo próprio Cristo. O convite que o Senhor nos faz é que o amemos desde já, mesmo que não saibamos quem será. Rezemos pelo Colégio Cardinalício, responsável por abrir a Igreja à moção do Espírito Santo, que virá em nosso favor.
É preciso louvar a Deus sem cessar. Afinal, "ele é bondoso e compassivo" (Sl 102).
EU TE LOUVAREI / TE ADORAR
Walmir Alencar
Deus nos abençoe!
Eduardo Parreiras Seminarista do 1° Ano de Teologia Arquidiocese de Belo Horizonte
Neste segundo domingo da Quaresma a Igreja nos propõe uma subida ao Monte Tabor, a fim de transfigurar nossa vida com o Cristo. No alto do monte Jesus se ilumina à vista de seus discípulos mais próximos, e lhes oferece uma visão breve da sua glória, enquanto Senhor do céu e da terra. Da nuvem vem a fala: "Este é o meu Filho muito amado, em quem ponho a minha confiança. Escutai o que ele diz!" Lc 9,35
O conteúdo cristão da conversão é muito mais que uma mera mudança de denominação religiosa, mas uma drástica mudança de vida. Ao contrário do que se prega, a conversão cristã não se dá de uma Igreja para outra, mas de uma atitude para a outra, cuja finalidade é uma adesão perene ao projeto salvífico de Cristo, a partir de uma experiência profunda de sua presença em meio à humanidade.
Pedro, comovido com tamanha glória que lhe era apresentada aos olhos, reconheceu o imenso gozo daquele momento, dizendo que era bom estar ali, contemplando a transfiguração. Muitas vezes também nós nos surpreendemos com a contemplação da graça de Deus e com a experiência que dela fazemos. Nossa frágil natureza humana não resiste a imensidão da presença de Deus. O problema é quando usamos isso como pretexto para não permanecer diante Dele, e justificamos o nosso pecado a partir da nossa exagerada fraqueza.
A conversão faz parte de um caminho, cujo percurso não se faz da noite para o dia. Não dá para percorrer os mais de quinhentos quilômetros entre os Santuários da Serra da Piedade, em Minas Gerais e Aparecida, em São Paulo, em apenas um dia. O processo de caminhada é lento e inclui a subida de muitos montes...
É preciso desejar a transfiguração da vida e perpetuá-la em um processo contínuo de conversão. É preciso aderir à glória de Deus na prática do dia a dia, e não apenas com meras práticas religiosas vazias de sentido. Uma novena faz um efeito estrondoso na vida de quem caminha nove dias se convertendo aos poucos, diante da oração que se faz pedindo a intercessão de algum dos grandes Santos da nossa história de fé. Aliás, transfigurar a vida significa, na prática, buscar a santidade todos os dias.
Vale a pena ser de Deus, mas para ser Dele é preciso desejá-lo cada dia, do amanhecer ao anoitecer, e do anoitecer ao amanhecer seguinte, e assim sucessivamente. A conversão é uma transfiguração diária, um novo apaixonar-se pelo Cristo e seus irmãos, que é cada próximo que Deus nos dá por companhia na caminhada.
Eu quero mais de Deus, muito mais do que eu mesmo posso imaginar. É que minha sede é muito maior do que minha lembrança dela...
MAIS DE TI
Gil Monteiro
Abraços...
Didu
Seminarista da Arquidiocese de Belo Horizonte
Estudante do Primeiro Ano de Teologia
Chegamos ao tempo
quaresmal, o grande retiro que a Igreja celebra anualmente em sua
preparação para a Páscoa do Senhor.
Tempo forte,
evidentemente marcado pela penitência e chamado à conversão, a
Quaresma é o período do ano litúrgico em que a Igreja mais se
recolhe, seja em oração, seja nas práticas penitenciais ou
caritativas. Os quarenta dias de deserto refletem na vida da
comunidade cristã os passos da agonia, paixão e morte de Nosso
Senhor Jesus Cristo, e nos impulsionam a viver com toda a alegria do
coração e grande júbilo o triunfo na ressurreição.
Sim, é para a
ressurreição que os corações se convergem neste tempo propício
ao recolhimento. A Páscoa é um tempo precioso demais para ser
vivido de qualquer forma, sem preparação adequada. É necessário
caminhar com Cristo em sua dor, para triunfar com Ele em sua vitória,
única e perene, sobre a morte.
Cada um de nós,
pelo batismo recebido, é introduzido no mistério pascal de Cristo
pelo sacramento que nos inicia Nele. É na vivência da fé que a
vida de Jesus passa a fazer parte da nossa vida. Por isso, caminhamos
com Cristo por todo o ano litúrgico, mas com uma intensidade bem
maior no ciclo pascal.
A finalidade deste
tempo litúrgico é impulsionar o coração a proclamar a vitória da
vida sobre a morte não apenas exteriormente, mas com o testemunho e
a própria vida. É por isso que, na Quarta-feira de Cinzas, o
evangelho nos apresenta um ensinamento muito importante de Jesus: a
entrega do coração a Ele, e somente a Ele. Isso significa que não
se deve pronunciar aos quatro ventos que se está a praticar rituais
de penitência, tal como o jejum e a abstinência, assim como as
práticas de caridade; tudo deve ser praticado no mais profundo
silêncio, apresentando somente ao Senhor dos Senhores os sacrifícios
que nos levam ao crescimento espiritual.
A penitência nos
faz ser mais humildes. É ela também que nos ajuda muito a ser mais
obedientes. E a obediência, portanto, nos confere uma nobreza de
espírito que só se conquista com a prática constante de obedecer.
E como é bom ser obediente! Isso deixa o coração livre para amar e
servir! E o serviço? Ah, sim! Ele nos torna homens verdadeiramente
entregues ao amor de Deus!
A Igreja celebra a
Quaresma para se aproximar sempre e cada vez mais os seus filhos do
próprio Cristo padecente, que se prepara para dar a cada homem e
mulher deste mundo uma nova e definitiva dignidade: a de filhos
adotivos de Deus.
Sigamos os passos do
Calvário com Cristo. Ao chegarmos no alto do monte, viveremos em sua
paixão a mais nobre experiência do amor, que tudo pode e tudo
salva.
A seguir, a canção
“Eu quero ser de Deus”, de Celina Borges.
Que a busca da
santidade seja constante não somente neste tempo de recolhimento,
mas em toda a vida.
EU QUERO SER DE DEUS
Celina Borges
Abraços e que Deus nos conduza ao centro de sua vontade e benevolência neste tempo quaresmal!