domingo, 11 de março de 2012

AVESSOS



E se o que vivo hoje fosse apenas uma ilusão de um ontem infantil, na incerteza de um maduro fim de tarde de 30 de fevereiro? Se hoje as horas extrapolassem as 23:49 e fossem até 24:59, eu não ligaria. Estaria da mesma forma como vivo esse hoje embaralhado.


Gosto de baralhos. Posso mover as cartas livremente, escondê-las sob a mesa ou distribuí-las igualmente. Uma coisa é certa: nunca posso ficar com todas pra mim. Sempre há uma esperança de ter a carta certa, ou a certeza de que a jogada não é mais que uma questão de sorte misturada com estratégia.

Os segundos passam, os minutos passam, as horas, os dias, os meses, os anos e os séculos. Milênios não permanecem estáticos, como se ignorassem a necessidade da passagem. Nada permanece.

O que sou é muito mais que um 30 de fevereiro ou um dia com 25 horas. Sou muito mais inexato que uma conta de 2 + 2 = 5. Quando somo eu comigo mesmo, sempre encontro 3. Eu, eu mesmo e um nada. Prefiro  a conta de 1 + 1 = 1, sendo Eu e Deus que me transforma nele, dando o mesmo resultado.

Não gosto de números. Eles são exatos demais para o meu excesso de subjetividade. A exatidão não me pertence. Moro em uma casa sem endereço certo, como um "trailler" que pode ser movido de um lugar a outro sem prévia comunicação.

Não faço contas de mim mesmo, para que eu não corra o risco de encontrar os resultados. Mas gosto de correr ao meu próprio encontro, pois sempre bato de frente comigo e, às vezes, ensaio um abraço que nunca acontece. Olhar em meus próprios olhos é uma ilusão de ótica, porque tento fingir que a imagem que vejo do outro lado seja algo melhor, mas sou eu mesmo.

Sou incompleto e não me importo com isso, embora tenha uma dificuldade imensa de aceitar a imperfeição alheia. A crise do outro me diverte, quando já não sei claramente quem sou eu, com todas as minhas imperfeições. A hipermetropia me tolhe a nitidez das almas.

Sei que não sou tão fraco quanto eu gostaria de ser, nem tão forte quanto precisaria ser, mas vejo bem de longe, e mal de perto. O infante de amanhã é inversamente proporcional ao adulto de ontem. Não posso ser uma vítima exata, desde que me consuma. Também não gosto de rótulos, que me identifiquem pelo que eu não sou. Não gosto de propaganda enganosa, pois acho injusta.


Sou injusto demais comigo mesmo para entender que fevereiro só tem 29 dias a cada quatro anos, e que seu curso normal só permite 28 curvas. Sei também que ao dia pertencem apenas 24 horas; o que passa disso é ensaio de semana. 2 + 2 serão sempre iguais a 4. 5 já é lucro.

O que falta em mim posso chamar de Eduardo, e o que sobra eu chamo Deus. A única desvantagem é que, nesta razão, sempre perco para um número eternamente superior ao meu limitado 1.

Abaixo, canção "Obra viva", da Madre Kelly Patrícia.



Me impressiona tua exatidão

Tua misteriosa precisão
Me fizeste tela viva em tuas mãos de artista
Me desenhaste saudade do infinito
No esboço um rosto de canto indisível
De olhos postos em mim, ó Jesus

Me desconcerta tua exatidão
Tua misteriosa precisão
Teu silêncio agudo, incisivo
Que talha a alma e o coração

Me fizeste tela viva em tuas mãos de artista
E me impressiona tua exatidão, tua precisão

Me fizeste tela viva em tuas mãos de artista
E me impressiona tua exatidão, tua precisão
tua exatidão, tua precisão



Abraço!!!!

Didu

2 comentários:

  1. ...meu fratello embaralhado e inacabado...
    Quando me sinto confusa ouço musicas,leio livro,durmo... ao final de tudo percebo que quando estou lendo,ouvindo,durmindo..minha duvida se torna perguntas e meus passatempos a resposta..
    A resposta deste teu embaralhamento logo virá e tudo ira se desembaralhar..(kk, que trocadilho).
    Amo-te, admiro-te..sempre!!!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Oh linda!!! Desembaralhar é difícil, né? Porque o desembaralhamento significa o jogo em si, em que as cartas são dadas. Essa hora de estudo e estratégia é a mais complicada, e eu, e todos nós, estamos em um jogo que só nos resta a vitória final. Bjos... te amo muito!!!!

      Excluir