"Naquele tempo, Jesus disse aos discípulos: Ide pelo mundo inteiro e anunciai a Boa Nova a toda criatura! Quem crer e for batizado será salvo. Quem não crer será condenado. Eis os sinais que acompanharão aqueles que crerem: expulsarão demônios em meu nome; falarão novas línguas; se pegarem em serpentes e beberem veneno mortal, não lhes fará mal algum; e quando impuserem as mãos sobre os doentes, estes ficarão curados. Depois de falar com os discípulos, o Senhor Jesus foi levado ao céu e sentou-se à direita de Deus. Então, os discípulos foram anunciar a Boa Nova por toda parte. O Senhor os ajudava e confirmava sua palavra pelos sinais que a acompanhavam." Mc 16,15-20
Amados irmãos em Cristo, graça e paz!
Hoje sinto uma necessidade de partilhar um pouco sobre a importância da festa da Ascensão do Senhor, cuja liturgia celebramos no último domingo. Baseada no trecho do evangelho de São Marcos citado, a liturgia dominical do penúltimo domingo do Tempo Pascal nos sugere seguir o exemplo dos discípulos que, primeiramente, viram Jesus subir ao céu e, em um segundo momento, foram anunciar o evangelho por toda parte.
Vejo duas propostas fundamentais a quem quer seguir Jesus. A primeira consiste em olhar para o céu e desejá-lo de todo coração. Sinto uma necessidade enorme de olhar para o céu e contemplar sua beleza. Refiro-me também a este céu que vemos, o firmamento, no qual podemos fitar a lua, as estrelas, outros astros e, durante o dia, o sol que ilumina, e as nuvens, que desenham de branco a imensidão azul.
Olhar para o céu é uma atitude nobre, que exige conhecimento da terra. Não se pode olhar para lá sem deixar de saber o que se passa por aqui, ao nosso redor, como se o céu fosse a única realidade existente. Mas não é. Temos a terra, objeto primordial do amor de Deus.
É interessante perceber que, no segundo momento os discípulos, já sem a presença "pessoal" de Jesus, começam a levar a sua Boa Nova a todos os cantos, por onde podiam ir. Eles não se contentavam com a visão do céu e levavam a todos os lugares a notícia maravilhosa de que Jesus é o Filho de Deus, Verbo Encarnado, que assumiu a nossa carne para termos com Ele a vida eterna, pela remissão do pecado.
A obra salvífica de Jesus não acontece no céu, mas na terra. Jesus era tão apaixonado pela terra que andava por ela, dizendo aos povos que cressem e se convertessem ao seu evangelho. Pelos caminhos realizava curas, milagres, libertações... ressuscitou mortos e ceou com os marginalizados. Permitiu que mulheres, inclusive estrangeiras, se aproximassem. Levantou da mais profunda miséria a pecadora condenada. Foi crucificado em meio a dois malfeitores... carregou, sozinho, os escárnios que lhe foram impostos por nosso pecado.
A festa solene da Ascensão do Senhor me chama a olhar para o céu, mas com profundo amor à terra. A morada celeste, a mesma para onde quero ir, é também para os meus irmãos, e o próprio Senhor me pede que eu também anuncie tal morada eterna. Enquanto o coração fica amarrado à meta celeste, as mãos e a inteligência ficam na terra, para que muitos se convertam e possam também desejar o céu.
É preciso ancorar o coração no céu. É preciso amar o céu, pensando que a terra pode ser um lugar melhor, com menos sofrimento e dor. Nem Deus, nem o homem, desejam o sofrimento, embora deva ser considerado para o crescimento humano quando não puder ser evitado. A atitude de amar os irmãos é fundamental para ancorar firmemente o coração no céu, repetindo o exato movimento proposto na conclusão do evangelho de São Marcos: primeiro o olhar se volta para o Cristo Ascendente, que é entronizado ao lado do Pai.; depois, a cena se volta para a terra, para o amor que precisa ser anunciado, experimentado e vivido. O amor precisa ser amado... O amor enquanto ação assume várias formas: o olhar, um auxílio, um cuidado, uma companhia, uma oração. Todas são partes do amor inteiro, que é Cristo. Portanto, não devemos reduzir o amor a apenas um ou outro gesto concreto, mas ao coração que age para favorecer o bem na vida do irmão.
As amizades são uma forma belíssima de ancorar o coração no céu, porque o coração do irmão pode se tornar o nosso céu, se o soubermos amar. Tenho feito a experiência de amar assim, livremente, independente de conceitos restritos do amor. Tenho experimentado amar com o olhar, com a oração, com a lembrança e até mesmo com a indiferença. Ao ser indiferente com algumas pessoas, não quero que sejam ainda mais feridas por mim, mas pretendo evitar que tenham ainda menos chance de me amar. Quando escancaro o meu coração a um novo amor é porque quero investir o amor que vem de Deus naquele coração. É o amor que cura, salva e liberta. O amor é a âncora do coração em Deus, e os amigos são os barcos que nos conduzem pelos mares tempestuosos das nossas imperfeições.
Amemos o céu, sem deixar a terra. Quando formos para lá, levaremos daqui o amor que Cristo nos deixou e pediu que espalhássemos pelo nosso mundo.
Hoje sugiro uma belíssima canção da Comunidade Católica Shalom, que tem tomado um enorme espaço nas minhas orações nos últimos dias...
VIVER E MORRER
Comunidade Católica Shalom (Álbum "Um só Corpo")
Que Deus nos conceda toda graça e toda paz!
Shalom!
Eduardo Parreiras