Menino tímido, acanhado, pacato mesmo, não se intrometia nos
assuntos dos colegas, nem jogava bola na rua; não subia em árvores, porque
tinha medo de altura. Não pegava traseira de caminhão, nem descia a principal
rua do bairro em carrinho de rolimãs. Andou pouco de skate, muito de bike e
roller. Gostava de soltar papagaio e brincar nas fazendas, que hoje abrigam
enormes condomínios.
Menino comportado, que não dava trabalho na escola e, quando
tomou uma ocorrência por culpa alheia, chorou dias a fio. A única vez em que
não pertenceu à classe de elite e foi parar na 4ª Série C, achou que fosse a
maior decepção possível na vida de algum mortal.
A professora pegou o caderno do menino, nessa mesma época, e
mostrou à turma como era “esgarranchado”, e ele sofreu com a zombaria dos
colegas. Passou o resto do ano treinando caligrafia para melhorar a letra. Não
aceitava ter uma letra feia, ilegível.
O menino foi crescendo, tentando ser o que queriam, e não o
que realmente era. Os sofrimentos dos tempos presentes aumentavam a cada dia,
por não entender a si como um ser simplesmente, e por achar que seria um ser
complexo demais para poder viver. Achava que não era digno do mundo.
O perfeccionismo é sempre massacrante, e traz sofrimentos
desnecessários. Não poder errar é uma imposição pesada demais para dar a si
mesmo, e ninguém merece carregar pacotes mais pesados que os comprados. Há
carrinhos nos supermercados com alguma finalidade: o importante é levar o
pacote, não importa como.
O menino, no entanto, temia não carregar os fardos que lhe
eram impostos e ser cobrado por isso, mas era. Queria ter forças para levá-los
adiante, mas não podia mediante sua condição franzina. Não lhe deram os pacotes
apropriados à idade e sempre caíam ao chão, provocando certo estrago.
Hoje o menino cresceu e pôde olhar para trás. Viu que todos os pesos passados eram frágeis diante de sua força de hoje. O problema agora
são os fardos que ele conquistou para si mesmo, ainda mais pesados que os
pacotes da meninice. Os amigos sabem quem realmente é o menino.
A VOZ DO MENINO
Maninho
Reflita. Talvez esse menino seja você!
Abraço e bênção!!!
Eduardo Parreiras