quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

QUARESMA, TEMPO DE CONVERSÃO



Prezados, boa noite!!!

Estamos em pleno tempo quaresmal, período em que toda a Igreja se retira em penitência, oração e obras de caridade, em preparação para a grande festa da Páscoa. Tenho refletido muito nos últimos dias sobre este tempo de graça e de conversão, além de ter tomado algumas atitudes em minha caminhada de fé.


O conceito de penitência não está associado ao de tristeza. Somente aqueles que se penitenciam para obter de Deus a graça para a conversão sabem o que é viver as renúncias com alegria. Muitos se enganam, achando que a Quaresma é um período triste, em que não se canta o glória na Santa Missa, nem o aleluia na aclamação ao Evangelho. Também não é permitido bater palmas e é bom que os ministérios de música se abstenham das percussões e ritmos eufóricos. Muitas igrejas também adotam as matracas no lugar dos sinos, na consagração, procissão do Santíssimo, via-sacra e outras formas de piedade popular. Outras guardam uma bela tradição de cobrir as imagens com cortinas roxas.

O silêncio é especialmente valorizado neste tempo, em que devemos nos recolher em uma constante penitência. Nosso coração deve esvaziar-se em meio à correria do dia-a-dia para que esteja aberto às festividades pascais. A oração tem especial importância, já que nos prepara para suportar as provações que costumam se intensificar neste tempo.


Gosto de viver a Quaresma em profunda reflexão da Palavra de Deus e vivência dos sacramentos. A Eucaristia e a Confissão tem um lugar todo especial, já que neste tempo preciso intensificar o processo de conversão. Aliás, o sentido de conversão no catolicismo é bem diferente do que ouvimos em outras denominações cristãs, que consideram convertido aquele que simplesmente troca uma instituição religiosa por outra. Aqui, na Igreja Católica, a conversão significa uma mudança de vida, de atitudes, que leva a uma adesão ao Evangelho de Cristo. É um processo contínuo, que só terminará no Céu. "Convertei-vos e crede no Evangelho!" É assim que, na quarta-feira de cinzas, começa o nosso tempo quaresmal.

Os 40 dias penitenciais, que se encerram no Domingo de Ramos (e da Paixão do Senhor), parecem demorar muito para quem se penitencia na tristeza, por ter que se abster de alguma coisa ou por jejuar. Muitos de nós ficamos na torcida para que esses dias passem logo, a fim de podermos fazer tudo aquilo que fazíamos até o carnaval, mas nossas penitências precisam nos preparar e educar para uma vida cristã mais autêntica. Esse é o real motivo da celebração de um tempo penitencial.


O "Mistério Pascal de Cristo" compõe-se por sua paixão, morte e ressurreição, que culmina na redenção da humanidade. Por isso, celebramos as dores de Jesus, desde sua agonia no Horto das Oliveiras, até o momento em que ressurge glorioso, vencedor da morte e do pecado. Aos domingos, refletimos os temas centrais que preparam este momento pascal da vida de Jesus, como as tentações no deserto no 1º Domingo da Quaresma. Algumas passagens dos Evangelhos serão especialmente refletidas, como o diálogo de Jesus com a Samaritana no poço de Jacó. "Eu te darei a água da vida", disse Jesus àquela mulher. E também repete a nós essa mesma proposta, para que tenhamos vida em abundância.

A cruz, emblema máximo da nossa fé, torna-se muito mais que um símbolo, mas configura-se em forma de provações e tentações, que sempre ameaçam nossa fé. A partir da contemplação da cruz, meditamos com piedade e amor os passos da via-sacra de Jesus, no trajeto ao calvário com a cruz aos ombros.


A Quaresma é, portanto, um período mais intenso e propício para uma conversão efetiva, que ocorre na prática, embora não seja necessariamente percebida pelos outros. O que importa é que a adesão a Cristo deve ser livre, inteira e alegre. Sempre!

Para nossa oração de hoje, proponho a música "É tempo", de Suely Façanha.


Abraços e que Deus conceda a você uma santa Quaresma, sem se esquecer de converter e crer no Evangelho!!!

Didu

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

FIDELIDADE



Graça e paz!

Hoje quero falar um pouco sobre fidelidade.

Muitos acham que o tema "fidelidade" está muito em voga atualmente, mas na verdade o que está na moda é a "infidelidade". Para entender melhor, é bom recorrer a um dicionário.

No Diconário Priberam da Língua Portuguesa ( http://www.priberam.pt/DLPO ) o termo "fidelidade" é apresentado com os seguintes significados:
1) Qualidade de fiel.
2) Fé, lealdade.
3) Verdade, veracidade.
4) Exatidão.

Como não é difícil presumir que "fidelidade" é a "qualidade de fiel", é possível perceber que a fidelidade é uma propriedade de quem tem fé. O fiel não é aquele que apenas acredita, mas aquele que crê, que adere ao ideal que julga ser o mais apropriado para seu estado de vida.

No Cristianismo a fidelidade é vivida principalmente pela renúncia que indica adesão total e irrevogável ao Evangelho (Boa Nova/Notícia) de Cristo. E qual é essa é essa tal de "boa nova"? "Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a ti mesmo!" Perceba que a frase é composta por "amar a Deus E ao próximo", e não "OU". Uma coisa "e" outra, e não uma coisa "ou" outra. É uma adição, e não exclusão.


Tenho questionado muito as minhas fidelidades. Digo no plural porque a questão é complexa mesmo, e não é algo instantâneo, mas constante. É como se a cada minuto eu me desse o direito e me cobrasse o dever de ser fiel, verdadeiro, exato em minhas decisões.

Eu fiz uma escolha que rege toda a minha vida: seguir os passos de Cristo. Amo a fidelidade simplérrima dele. Nasceu em um cocho, viveu como carpinteiro, comeu (e viveu) com os "pecadores" de seu tempo. Questionou fariseus e, por isso e tanto mais, foi condenado à morte mais humilhante que existia na época. E permaneceu "fiel". Se um homem como Jesus foi tão fiel, ao ponto de suportar tantas coisas para renovar a humanidade em uma nova forma de amar, por que eu não deveria também segui-lo? Aí começa a minha fidelidade, ser fiel ao que Ele quer pra mim.

Neste carnaval tive a graça de fazer uma peregrinação à Serra da Piedade, momento em que pude contemplar a fidelidade de Maria, que acompanhou Jesus desde a sua concepção até sua morte na cruz. Maria foi e é uma mulher fiel. Ela tem em sua essência a fidelidade no ministério da intercessão. Qual mãe não intercede por seus filhos? Só o silêncio de Maria já é prova máxima de sua fidelidade ao projeto de Deus. Ser Mãe de Deus foi o resultado de uma fidelidade "imaculada", que não deixou brechas para deslizes no pecado. É o testemunho maior para todo cristão que deseja ser santo.

Os tempos em que vivemos não são propícios à vivência da fidelidade. A moda é ser infiel. Sempre. O homem é pegador e a mulher é a gostosona, super desejada. O religioso é aquele que, por ora é fanático,  ora é aquele que apenas diz palavras vazias de sentido. O carnaval é o tempo em que o governo lembra da camisinha, para que o sexo seja seguro. Caso ocorra uma gravidez indesejada, é fácil abortar. Crê-se que podemos pensar na saúde da mulher e na morte de um feto ao mesmo tempo, como se as duas coisas se completassem.



Ser cristão católico é, hoje em dia, uma necessidade de ser fiel radicalmente. A fidelidade está na raiz da fé católica, seja na renúncia ou na doação da própria vida. Ser católico é ir com Jesus ao Calvário e morrer lá com ele, seja de dor ou de amor. Ser fiel é uma exigência dos cristãos de hoje, e não há como ficar no meio termo. Ou se é fiel ou infiel. Ser católico é ser fiel e nada mais.

Hoje começamos, nesta quarta-feira de cinzas, o Tempo da Quaresma. Somos chamados por Deus à conversão e a crer no seu Evangelho. As cinzas de hoje nos recordam do pó de ontem e de amanhã, da natureza frágil que nos constitui, apesar de sermos amados por Deus. Jejum, abstinência, oração e esmola estão entre as ações que devem constituir a nossa Quaresma. Sejamos, portanto, fieis a este tempo também. Cresçamos na graça e na fé. Afinal, "a perseverança leva à consistência." (Bruno de Paula)

Na oração de hoje podemos ouvir essa belísima música do CD "Coisas que Vivi", de Adriana Arydes.

Abraços e uma santa Quaresma a todos!


Eduardo Parreiras

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

CONTRADIÇÕES



Muitas vezes sinto a falta de olhar nos olhos de quem já fez ou faz parte da minha vida. Não sei bem ao certo o motivo, mas meu olhar nem sempre cruza outro. Sei lá, parece que serei condenado a todo e qualquer momento por algum motivo.

Vivo sempre uma culpa dilacerante, que me divide ao meio. Fui criado como o grande culpado pela queda da humanidade no pecado original, como aquele que atrapalha a vida humana e pelo caos que impera sobre o cosmo.


A bênção, a graça, a esperança e a fé são, muitas vezes, apenas substantivos abstratos do gênero feminino, sem relação direta com a realidade. Muitas vezes não consigo usar verbos de ação, porque não me liberto dos verbos de ligação.

Sou inflexível demais para conseguir me conjugar, e nem sempre tenho facilidade com os plurais. O individualismo me rouba da totalidade, fazendo-me sempre parte pequena de um todo muito maior.

Frase, palavra, texto... tudo é pretexto sem contexto.

Gênese e Apocalipse são, muitas vezes, sinais de contradição para mim, como princípio e fim, primeiro e último, nunca como algo que se completa. Completar-me a mim mesmo é uma tarefa impossível, que não tem Gênese nem Apocalipse, pois não pode começar e, muito menos, terminar.

Vivo num constante Êxodo, muitas vezes sem salmodiar a vida, nem profetizar o futuro vindouro. Evangelizar é um Ato de Apóstolo que me parece fora da realidade.


Sinai, Carmelo, Tabor, Oliveiras, Sião e Gólgota são, muitas vezes, apenas referências geográficas longínquas, bem distantes do Espinhaço, Canastra, Mantiqueira, Curral e Rola-Moça.

Vivo em uma constante inversão de valores temporários, que não chegam a roubar definitivamente o lugar dos valores eternos. É certo que minhas culpas às vezes não me permitem desfrutar o olhar, mas minhas convicções podem falar no lugar dos meus olhos. Embora nem sempre haja testemunho, há em mim um amor, embora oculto.


CONTRÁRIOS
Pe. Fábio de Melo

Eduardo Parreiras